Parte 01 – O que as pessoas mais poderosas do mundo tem a nos ensinar?

Darei início aqui a uma série de três textos onde pretendo demonstrar as principais motivações de algumas das pessoas mais poderosas que o mundo já conheceu durante três períodos da nossa história: modernidade, início do século XX e contemporaneidade. Para tal, separei algumas das maiores personalidades conhecidas que fizeram história e fizeram parte da evolução socioeconômica mundial. Pessoas que fizeram a diferença por onde passaram, que souberam reconhecer o momento de suas respectivas sociedades e através de uma leitura inteligente de suas próprias atualidades, construíram ou aumentaram ainda mais suas riquezas. A pretensão aqui é justamente identifica o que essas pessoas tinham em comum, em períodos tão adversos da história, que as ajudaram a se destacarem da multidão. Mais do que isso, convido vocês a identificar elementos dessas histórias que possam contribuir para a construção de suas próprias histórias. 

Desde a antiguidade, vimos através de inúmeros livros das mais diversas naturezas que muitos faraós e reis construíram verdadeiros impérios ou aumentaram suas fortunas de forma significativa a partir do que herdaram de suas famílias nobres. Dentre eles, quero destacar aqui três nomes que provavelmente todos vocês já ouviram falar: Faraó Amenhotep III (1.353 a.C. e 1.336 a.C, Rei Salomão (~ 970-931 a.C) e Mansa Muça ou Mansa Musa (1280 – 1337). O que essas três pessoas tinham em comum? A capacidade de dialogar mantendo assim a paz de seus reinos e consequentemente suas dinastias foram pautadas por um longo período de prosperidade. Além disso, eram inteligentes e sabiam escolher seus conselheiros.

Caminhando um pouco mais a frente no tempo, outras personalidades marcaram seus nomes na história mundial e fizeram total diferença a partir de suas existências e dos seus feitos. Para esse primeiro texto, elegi duas personalidades do período moderno: Andrew Carnegie (1835) e John Davison Rockefeller (1839). A escolha desses dois nomes não é por um acaso:  ambos hoje são considerados ícones de negócios, mas na mesma intensidade, são lembrados por serem altruístas e inteligentes. Mas o mais instigante nisso tudo é que Carnegie e Rockefeller não chegaram ao altruísmo pelo mesmo viés e isso ficará mais claro no final desse texto. 

1.1 Andrew Carnegie

Filho de um pai tecelão e de uma dona de casa, Andrew teve uma infância pobre e extremamente difícil na Escócia. Em busca de uma vida melhor, os pais de Andrew migraram para os Estados Unidos. Ele com 13 anos de idade na época não podia estudar porque trabalhava 12 horas por dia numa fábrica Tecelã da Pensilvânia onde ganhava 1 dólar por semana. Aos 15 anos, Carnegie teve a oportunidade de trabalhar numa empresa que construía ferrovias e é aqui que ocorre uma guinada na sua vida. Sob a mentoria de seu chefe Thomas A. Scott, Carnegie aprendeu muito sobre empreendedorismo passando a investir parte do seu salário em petróleo. Com o excelente retorno desses investimentos, aos 24 anos fundou sua própria empresa a Keystone Bridge Works, empresa responsável por construir a primeira ponte de aço de Ohio e a Union Iron Mills em 1868. Ver aqui.

Pode-se dizer sem sombra de dúvidas que a Companhia do Aço Carnegie mudou a história dos Estados Unidos nesse segmento uma vez que Carnegie trouxe ideias e inovações tecnológicas que transformaram a fabricação de aço numa atividade mais simples e rápida. 

A grande perspicácia de Carnegie foi investir no processo de Bessemer[1] que o permitiu economizar e expandir seu negócio a ponto de se tornar a empresa mais bem-sucedida no seu tempo.  Posteriormente, Andrew Carnegie vendeu sua empresa por 480 milhões de dólares se tornando naquele momento o homem mais rico do mundo e historicamente um dos homens mais ricos e influentes da história. 

Legado: 

Depois de acumular toda essa fortuna, Carnegie dedicou-se todo o resto de sua vida à projetos filantrópicos. Para começar, ajudou a construir 2.800 bibliotecas pelos Estados Unidos. Além disso, ajudou na construção de museus, salas para concertos, fez inúmeras doações para instituições de educação, criou fundações como o Carnegie Institute of Pittisburgh (1896), a Carnegie Institution of New York (1902) e a Carnegie Corporation of New York (1911). Construiu também o Palácio da Paz em Haia que abriga o Tribunal Internacional de Justiça (órgão judicial das Nações Unidas), o Tribunal Permanente de Arbitragem (PCA), a Academia de Direito Internacional de Haia e a Biblioteca do Palácio da Paz.

Vale dizer ainda que Carnegie defendeu a Liga das Nações (primeira organização mundial nos moldes da ONU) e doou mais de 350 bilhões de dólares em vida. É dele a célebre frase “O homem que morre rico, morre desonrado”. Morreu aos 83 anos em sua mansão em Lenox, Massachusetts. 

1.2 John Davison Rockefeller 

Foi um dos homens mais poderosos que o mundo já conheceu.  Filho de um pai madeireiro que posteriormente se tornou vendedor de produtos orgânicos, Rockefeller não teve a figura paterna presente uma vez que seu pai raramente retornava para casa. Desde muito cedo, sua mãe ensinou aos 06 (Seis) filhos a importância do trabalho e da independência financeira influenciando Rockefeller a adotar uma postura de vendedor/negociador desde muito jovem. Aos 16 anos conseguiu o seu primeiro emprego como assistente de contabilidade onde aprendeu cálculo de custos de transportes e métodos de contabilidade. 

Seu primeiro grande empreendimento foi um atacado de alimentos, uma parceria firmada entre ele e um amigo cujo investimento por parte de Rockefeller foi de 4 mil dólares. Em 1863, essa parceria se desdobrou para um novo negócio: a refinaria de petróleo que daria um verdadeiro império a Rockefeller. 

Rockefeller era visionário, inteligente e perceptivo. Foi assim que percebeu no pós-guerra Civil Americana a chance real de aumentar ainda mais seus lucros, pois, nesse período, houve uma grande expansão ferroviária o que gerou uma imensa necessidade de petróleo para fazê-la funcionar. Para se sobressair aos seus concorrentes, Rockefeller diminuiu os seus preços significativamente e passou a negociar preços muito mais baixos que o normal com as ferrovias. Sendo assim, seus concorrentes foram levados a perder tanto dinheiro que se viram obrigados a venderem suas empresas para Rockfeller. A Standard Oil se tornou uma unanimidade tão poderosa nos negócios – representando 70% do mercado de petróleo e refinados – que acabou chamando a atenção do governo americano passando a ser alvo de investigações. Posteriormente, o governo americano concluiu que a companhia teria se originado de práticas ilegais de concorrências desleais de formação de cartel obrigando-os a se dividirem em outras 34 novas empresas distribuídas em diversos Estados americano. 

Legado:

Por conta das forças antitruste[1], Rockefeller começou a criar corporações de caridade no intuito de deixar de ser um alvo do governo, doando por assim dizer o excesso de dinheiro. No entanto, com o tempo, a filantropia deixou de ser uma estratégia se tornando uma missão. Mesmo quando não precisava mais fazer qualquer doação, Rockfeller continuou e seu legado segue até os dias atuais. Dentre as doações e corporações de caridade criadas por ele e por sua família, podemos citar a Universidade de Chicago, o Instituto Rockefeller de Pesquisas Médicas (hoje Universidade Rockefeller de Nova Iorque) e a Central Philippine University nas Filipinas e a Fundação Rockefeller (1913). Além disso, ao morrer, Rockefeller deixou metade de sua fortuna de 150 milhões de dólares ao Rockefeller Brothers Fund, criado em 1940 que já havia recebido 58 milhões de doação anteriormente. Ver aqui

O que há em comum entre Carnegie e Rockfeller?

A primeira coisa que percebemos em comum entre Carnegie e Rockfeller é a sensibilidade de entender as necessidades de uma nação num dado momento. Qualquer pessoa poderia ter percebido que o método Bessemer era uma grande inovação para indústria do aço, mas foi Carnegie a pessoa que não se acomodou e tentou ir além daquilo que todo mundo fazia. O mesmo se nota em Rockfeller, seu nível de percepção aguçado o levou ao produto crucial naquele momento pós-guerra, o petróleo. Nada poderia se desenvolver nesse momento sem o petróleo, era o diamante negro de uma época em que os Estados Unidos expandiam suas ferrovias de forma acelerada. Podemos chamar isso de vários nomes: perspicácia, feeling, percepção aguçada. Todas essas definições nos levam ao mesmo lugar: é preciso estar atento sempre às transformações. Elas ocorrem o tempo todo e a maioria das pessoas nem percebem. Por isso a desinformação é um preço alto a se pagar; 

O segundo ponto em comum entre essas personalidades é a diligencia[1]. Há de se dedicar à atividade que se propôs a fazer e as vezes é uma dedicação exaustiva porque o dono de um negócio não pode conhecer sua atividade de forma superficial, é preciso entender as entranhas dessa atividade, o seu sustentáculo, os seus pilares. Carnegie e Rockfeller eram homens dedicados e zelosos por suas empresas. Tudo era minuciosamente pensado, nunca lhes faltavam estratégias e nunca terceirizaram o conhecimento de suas próprias atividades. Podemos então resumir esse segundo ponto na seguinte frase: cuide do seu negócio do início ao fim, para você suprir todas as necessidades que vierem a surgir.

O terceiro ponto em comum não só entre Carnegie e Rockfeller mas entre quase todas as personalidades mais poderosas e respeitadas do mundo – independente da época em que viveram – é o conceito de Mastermind amplamente discutido por Napoleon Hill em sua obra A Lei do Triunfo. No primeiro capítulo, Hill define o conceito como “Um espírito que se desenvolve por meio da cooperação harmoniosa entre duas ou mais pessoas, que se aliam com o objetivo de realizar uma determinada missão”. Noutras palavras, são ações estratégicas e inteligentes para desenvolver o espírito de cooperação entre as pessoas que nos cercam tendo como objetivo ultimo o sucesso e a conquista de grandes resultados. Para Napoleon Hill “É a personalidade dos empregados que determina o grau de sucesso que o negócio irá alcançar. Modifique essa personalidade tornando-a mais agradável, e os negócios florescerão” ou seja, o indivíduo que possui uma mente mestre (mastermind) é capaz de gerir seus cooperadores de tal forma que ele transforma as pessoas e consequentemente o ambiente para alcançar qualquer propósito pensado de antemão. Suas metas se tornam reais porque todos estão olhando e caminhando para a mesma direção. 

O quarto e último ponto que merece ser destacado e que se relaciona diretamente com o ponto anterior é a capacidade de enxergar as necessidades do outro.  A filantropia entrou na vida de Carnegie e Rockfeller por motivos completamente diferentes: o primeiro por puro altruísmo e empatia, o segundo por uma estratégia que driblava a lei americana antitruste. No entanto, Rockfeller superou essa motivação inicial moralmente duvidosa quando entendeu que o poder traz responsabilidades e isso fica claro quando repetiu inúmeras vezes a célebre frase do teólogo anglicano e precursor do movimento metodista  John Wesley “Ganhe tudo que possa, economize tudo que possa e dê tudo que possa.” 

Pode-se concluir que percepção, inteligência (Mastermind), estudos/conhecimento, perspicácia, diligência e empatia foram algumas das características que moveram a história dessas duas personalidades mundialmente conhecidas.

O que lhe falta ou o que lhe sobre dessas características? Onde está o equilíbrio de suas necessidades e de suas atividades? Essas são questões para serem refletidas. Nos próximos dois textos, outras personalidades completamente diferentes serão aqui trabalhadas para que possamos entender as nuances que regem as atividades e as atitudes dos homens mais poderosos do mundo, diante das adversidades históricas de suas respectivas épocas. 

Paulo Lemes.


[1] Diligencia: zelo, cuidado, aplicação. 


[1] As forças antitrustes também conhecida como Lei contra os abusos de poder Econômico nos Estados Unidos surgiu porque os juristas e os economistas do governo norte-americano entendeu que quando a concentração econômica se concentra nas mãos de poucos, cria-se uma ameaça ao próprio estado que consequentemente reagirá para eliminar esse poder e para defender o interesse coletivo, podendo assim se apropriar dos meios de produção.


[1] Criado por Henry Bessemer, o processo de Bessemer consiste na produção em massa de aço a partir de ferro gusa fundido. Esse processo industrial é de baixo custo e foi um avanço a partir de uma prática comum muito conhecida na China desde 200 d.C. O princípio desse processo é a remoção de impurezas do ferro pela oxidação com ar soprado através do ferro fundido. Noutras palavras, é  forma mais eficaz de introduzir oxigênio em ferro fundido a fim de reduzir o teor de carbono. A oxidação inclusive aumenta a temperatura da massa de ferro e a mantém em estado fundido.


3 respostas para “Parte 01 – O que as pessoas mais poderosas do mundo tem a nos ensinar?”.

  1. Avatar de Graça Sobreiro
    Graça Sobreiro

    muito bom esse texto.

    Curtir

  2. […] vimos no texto anterior (ver aqui link) essa é uma série com três textos onde o principal objetivo é demonstrar as principais […]

    Curtir

  3. Paulo, me sinto abençoado por Deus por me guiar até você e pela oportunidade de poder desfrutar um pouco do seu grande conhecimento.
    Gratidão.

    Curtir

Deixar mensagem para Graça Sobreiro Cancelar resposta