Parte 02 – Início do século XX – O que as pessoas mais poderosas do mundo têm a nos ensinar?

Como vimos no texto anterior (ver aqui link) essa é uma série com três textos onde o principal objetivo é demonstrar as principais características que governaram e governam as ações das pessoas mais poderosas que o mundo já conheceu. Com uma abordagem em três períodos históricos (moderno, pós-moderno e contemporâneo) pretendo trazer um conteúdo imersivo que contribuirá para a construção de nossas próprias personalidades no mundo do empreendedorismo. Tenho como princípio que bons exemplos educam e contribuem de forma significativa na busca de valores para o nosso crescimento pessoal e profissional. 

O presente texto é o segundo da série e abordará dois dos principais nomes dos negócios e do empreendedorismo que compreende o período inicial do século XX até o início da década de 80. São eles: Henry Ford e Sam Walton. O primeiro é obviamente mais conhecido, pois, foi o fundador da Ford Motor Company já o segundo é o fundador de uma das maiores redes varejistas do mundo, o Walmart.

1. Henry Ford e o Fordismo (1863-1947)

Ford nasceu no dia 30 de Julho de 1863 em Wayne Country, Michigan, era o filho mais velho dos seis filhos de William Ford e Mary. Desde muito jovem Henry Ford já se mostrava aficionado por mecânica. Tanto que aos 12 anos equipou de forma amadora uma oficina mecânica para fazer experimentos. Com 15 anos, construiu sua primeira máquina a vapor. Um pouco mais velho, com 16 anos perdeu sua mãe e em seguida se mudou para Detroit para trabalhar nas lojas James F. Flower and Brothers e também na fábrica da Detroit Dry Dock Company. Até então era autodidata, apenas mais tarde ingressou no curso de Engenharia e passou a trabalhar em 1891 na Edison Illuminating Company of Detroit. Dois anos depois, tornou-se engenheiro-chefe dessa mesma empresa, cujo fundador é ninguém menos que Thomas Edison que veio a se tornar amigo íntimo de Ford ao longo da vida.

O primeiro motor Ford foi criado em 1893 em sua mesa de cozinha, tratava-se de um modelo inicial do que posteriormente veio a se tornar oficialmente o motor do seu primeiro automóvel: o Quadriciclo de 1896. Em 1899 ele renunciou ao seu trabalho na Edison Illuminating Company para fundar a Detroit Automobile Company que faliu um pouco depois de 1 ano e meio[1]. Em nenhum momento essa falência abalou os ânimos de Ford e foi nesse interim, que ele se dedicou a projetar e construir alguns carros de corridas[2]. Mas foi em 1903, junto com outros 12 investidores que Henry Ford fundou a Ford Motor Company com um investimento total de US$ 28.000. Mais tarde, Ford e sua família se tornaram únicos proprietários da empresa quando compraram as ações de todos os demais por US$ 105.820.894.

Os grandes feitos automobilísticos: 

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O primeiro carro a ser lançado, em 1903, foi o Modelo A de dois cilindros que se tornou um sucesso imediato. Com um número alto de encomendas, a fábrica começou a produzir em uma escala maior diária o que levou a empresa a registrar lucros estrondosos ao fim daquele ano. Ver aqui. Após todo esse sucesso, Ford passou a fabricar o Modelo T em 1908 por um preço aproximado de 850 dólares. 

O Modelo T revolucionou o mercado por ser um carro barato até para a época, com esse valor as encomendas aumentavam exponencialmente o que levou Ford a pensar uma forma prática e acelerada de montar carros: inaugurava-se a linha de montagem no setor automobilístico[3] e consequentemente o que foi chamado posteriormente de Fordismo. 

Fordismo e o seu legado: 

Foto reprodução google

O fordismo é um termo empregado à maneira como Henry Ford conduziu sua empresa desde o início, um método revolucionário para sua época e provavelmente espantoso para algumas concepções econômicas atuais. Ford desenvolveu um sistema onde ele pagava salários aos empregados acima da média enquanto vendia produtos mais baratos que a concorrência. Isso porque considerava que o lucro deveria vir da quantidade de produtos vendidos e não da venda reduzida de produtos caros e luxuosos que apenas um nicho muito reduzido de pessoas poderia pagar. Esse pensamento aliado a uma produção em larga escala – através da automação da produção – ele criou uma demanda no imaginário das pessoas. A indústria automotiva que até então era muito cara e luxuosa por ser voltada apenas à um público muito rico e poderoso abriu suas portas através de Ford para aquele público que jamais se imaginou dono de um automóvel. 

Com isso, ele criou o desejo, a demanda e o estímulo para uma evolução tecnológica nunca antes imaginada. 

Com a alta salarial, Ford conseguiu também que os melhores mecânicos da época fossem trabalhar em sua companhia aumentando de forma significativa a capacidade de criação e tecnologia fazendo com que em poucos anos a Ford Motor Company lançasse os melhores carros da América. Sobre o fordismo, ver mais aqui. Em 1928, a organização Ford empregava 200 mil operários e fabricava 6 mil carros diariamente além dos caminhões, tratores, Onibus.  

2. Sam Walton (1918-1992)

Foto google

Sam Walton nasceu em 1918 em Kingfisher, Oklahoma. Filho mais velho de do banqueiro Thomas Walton e de Nancy Lee, Sam estudou Economia na Universidade de Missouri onde pode ingressar em um programa de treinamento gerencial da JC Penney Company. Mais tarde, abriu seu próprio negócio, mais precisamente uma franquia de variedades, a  Ben Franklin. Para tal, utilizou US $ 5.000 de seu próprio bolso e pediu cerca de US $ 20.000 emprestados do seu sogro. Seguindo uma política de produtos com preços mais baixos, Walton aumentou o faturamento de tal forma que em 1960 ele e seu irmão James administravam um rede de lojas Bem Franklin em vários estados. O sucesso desse empreendimento motivou Sam a criar o projeto de uma rede de lojas de descontos que tivessem suas sedes em pequenas cidades. Ao apresentar tal projeto, os executivos da Bem Franklin o rejeitaram de prontidão. Mas foi nesse momento que a vida de Sam deu uma guinada radical: Sam decidiu ele mesmo criar a rede por sua conta, abrindo assim a primeira rede Walmart Discount City em Rogers, Arkansas em 1962.

Ideologia de negócios e Legado: 

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Todos acreditavam que a loja de Sam[4] não sairia do lugar, para a mentalidade de época era impossível oferecer um bom serviço cobrando tão pouco por mercadorias. No entanto, o novo empreendimento cresceu de forma rápida assim como o anterior, levando Sam a abrir uma loja após outra. Isso porque a comunidade rural se encontrava empolgada com a oportunidade de adquirir produtos variados da cidade grande que até então não chegavam para eles e ainda com preços promocionais. Com isso, as vendas do Walmart dispararam levando Sam a expandir o negócio em 18 lojas em 10 anos. Em 1970, Sam decide abrir o capital da empresa gerando mais de 5 milhões de dólares mesmo mantendo 61% das ações na sua família. 

Depois de abrir o capital, no primeiro o Walmart abriu mais 6 lojas, nos próximos dois anos mais 13 lojas e em 1980 já havia um total de 276 lojas. A partir daí, eram 100 lojas por ano. Em 1985 Sam Walton foi declarado como o homem mais rico da América pela revista Forbes com uma fortuna estimada em US$ 2,8 bilhões. Mais detalhes veja aqui.

O que há em comum entre Sam Walton e Henry Ford?

Reprodução Google

A primeira característica que salta aos olhos ao analisar a história dessas duas personalidades é que ambos tiveram coragem de ir na contramão da mentalidade econômica da maioria. Quando Ford decidiu produzir automóveis com valores tão abaixo do que o mercado oferecia, ele estava ousando dizer ao mercado da sua época que tinha um novo jeito de empreender. Exatamente o mesmo ocorre com Sam, num projeto audacioso que foi renegado de antemão por seus franqueadores. Essa mesma coragem persiste quando há um movimento intenso para fazê-los mudarem de ideia, facilmente eles poderiam se renderem às críticas e desistidos de seus sonhos. Mas em nenhum momento na biografia desses dois fenômenos houve qualquer dúvida do objetivo que buscavam. 

O segundo ponto que devemos observar é a ideia revolucionária que cada um traz consigo. No caso de Ford, embora ele não tenha inventado o automóvel ou a própria fórmula da linha de montagem, ele foi o primeiro a trazer essa mecânica para a indústria automobilística. Criar formas de executar aquilo que se tem em mente não é uma tarefa fácil, mas Ford o fez e o fez tão bem que seu legado continua a todo vapor até os dias atuais. No caso de Sam, ele revolucionou a economia de serviços americana trazendo um novo modo de se fazer compras onde quem detinha o poder era o consumidor e não o varejista. Não por acaso ele disse “existe apenas um chefe, o cliente. E ele pode demitir todos na empresa, desde o presidente, simplesmente gastando o dinheiro em outro lugar”. 

O terceiro ponto que merece destaque é a maneira que ambos tiveram de olhar as necessidades de seus funcionários. A mentalidade exploratória não era para qualquer um deles uma estratégia. Ao contrário, se por um lado Ford acreditava que bons salários – e tudo que vinha junto com o fordismo –  fariam bons funcionários, por outro, Sam Walton acreditava que bons salários, reforço positivo e ampla comunicação com os seus funcionários – motivando-os a participarem com ideias e planejamentos – criaria uma aliança indispensável para o bom funcionamento da empresa. 

A força motriz de ambos está numa extrema capacidade mental de não se abalar com críticas, pensar de forma clara e concisa sobre cada decisão, aguçar o próprio pensamento em busca de estratégias nunca antes pensadas e descobrir maneiras de executá-las. Mas tudo isso estaria perdido se a mesma força mental não estivesse presente em cada ação, cada execução cada tomada de decisão no decorrer de todo o processo. Quais dessas características estão presentes ou ausentes em suas ações? Quantas vezes você desistiu de fazer algo por medo de não conseguir executar ou simplesmente porque recebeu uma crítica negativa? O que você aprendeu até aqui com Carnegie, Rockefeller, Ford e Sam Walton? Deixe seus comentários abaixo.

Paulo Lemes


[1] Falência essa que teve como principal motivação a falta de incentivo dos seus investidores. Isso porque Ford queria fabricar carros que pudessem impactar a vida das pessoas, mas para os investidores apenas o retorno financeiro a curto prazo interessavam.

[2] Um de seus carros recebeu o nome de Sweepstakes, ele derrotou Alexander Winton em uma pista em Grosse Pointe, Michigan, em 10 de outubro de 1901. Ver aqui (https://corporate.ford.com/articles/history/henry-ford-biography.html).

[3] Importante ressaltar aqui que a linha de montagem propriamente dita já havia sido inventada em um outro setor: o da alimentação. “Antes que Ford colocasse carros na linha de montagem, as fábricas da Heinz em Pittsburgh, na Pensilvânia, já produziam conservas de feijão e molho de tomate em linhas de produção nas quais algumas tarefas, como o fechamento das latas, eram automatizadas. Fotografias de 1904 mostram operários com uniforme da Heinz trabalhando em linhas de produção: os frascos de ketchup deslocam-se em um trilho. Um ano depois, Heinz vendeu 1 milhão de frascos de ketchup. Em 1910, produziu 40 milhões de latas de conserva e 20 milhões de frascos de vidro. A empresa era a mais importante transnacional norte-americana.” Ver (https://diplomatique.org.br/a-historia-do-capitalismo-contada-pelo-ketchup/)

[4] Um fato curioso dos irmãos Walton: Numa época em que não havia google maps, os irmãos Walton compraram um pequeno aviao – um pouco  antes de fundarem o Walmart – e sobrevoaram as cidades pequenas do estado em que moravam, para ter uma noção de tamanho, densidade demográfica etc. 

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