Considerações sobre o Círculo dourado de Simon Sinek e sua relação com a teoria de jogo finito e jogo infinito

Em 2020, antes da pandemia, tive o privilegio de assistir a uma palestra do Simon Sinek, um palestrante e escritor, autor de Best Sellers como “Starts With Why”, onde ele desenvolve sua teoria intitulada Golden Circle ou Circulo dourado.

No livro citado, sua teoria gira em torno da articulação de se usar a palavra ‘Porque’, ‘Como’ e ‘O que’, isto é, o ponto de partida é dado através dos questionamentos que se faz de crenças, propósitos e causas que estejam por traz daquilo que se está executando, seja  dentro de uma empresa seja qualquer atividade que tenha o sucesso como objetivo ultimo. Ao apresentar o conceito de Círculo Dourado, Sinek nos apresenta um algo muito simples mas que ilustra bem a maneira como o pensamento é dado de dentro pra fora:   

Círculo Dourado baseado na teoria de Simon Sinek

Como observado, é um raciocínio simples, mas que pode fazer uma grande diferença para uma empresa que pretende lançar um novo produto, por exemplo. Umas das empresas, inclusive, que mais exploram esse modelo de raciocínio é a Apple. Estima-se que, grande parte das empresas sabem responder com facilidade o ‘O que’ e o ‘Como’, mas a parte do ‘Por que’ é o maior complicador. A empresa precisa ter plena consciência da contribuição de um produto para quem o compra, não basta lançar uma grande quantidade de produtos cuja função pragmática esteja completamente indefinida. E nesse caso, o pensamento precisa ser por atacado, abrangendo o máximo e não o mínimo. Fazendo uma análise mais aprofundada, percebe-se que o círculo nos oferece uma visão mais ampla para se pensar o produto. Além do ‘O que’, do ‘Como’ e do ‘Por que’ ele está nos mobilizando a pensar em objetivos mais amplo de um negócio: do por que de sua existência, de quais contribuições ela pode trazer para uma sociedade a longo prazo, de como ela pode facilitar a vida do cliente, do que ela pretende atingir à longo prazo e por aí vai. Como diz o próprio autor e criador do círculo: “As pessoas não compram o que você faz, elas compram o ‘por que’ você faz. E o que você faz simplesmente prova em que você acredita.”

O que estamos vendo aqui nada mais é que a necessidade de se ter um propósito genuíno. E é aqui que entra uma segunda teoria desenvolvida por Sinek denominado de Jogo finito vs jogo infinito. Essa teoria foi amplamente desenvolvida em seu livro intitulada “O jogo infinito” e nessa obra o autor explica que, no decorrer de nossas vidas, podemos nos deparar com inúmeros jogos finitos e eles podem ser definidos como um jogo que implica regras onde você conhece seus oponentes e em algum momento, haverá um vencedor. Podem ser considerados jogos finitos tanto os jogos propriamente dito como futebol, pôquer, etc. ou até mesmo aqueles objetivos de vida finitos, cujo jogador pretende alcançar um objetivo especial como por exemplo, uma atriz que tem como principal objetivo  conseguir um papel na Broadway, uma vez alcançado esse objetivo o jogo acabou, houve um vencedor no momento em que o objetivo foi alcançado. Mas e depois? O que fica? Como lidar com a sensação de vazio e com a necessidade imediata de encontrar um outro objetivo? Nesse momento, há um grande risco de as pessoas desenvolverem quadro de ansiedades e depressão, porque não há mais um objetivo pelo qual lutar e pensar em um novo objetivo pode levar um tempo, é preciso organizar as ideias diante da pressão da pergunta “E agora? O que você vai fazer?”. Ver aqui.

Mas quando há um propósito genuíno, ele está sempre em manutenção, é aí que entramos num jogo infinito, isto é, um jogo contínuo que precisa ser pensado, analisado e corrigido continuamente. Para entendermos melhor essa questão, vou recorrer à uma teoria japonesa chamada Kaizen. Kaizen é uma palavra de origem japonesa cujo significado é “mudança para melhor”. Ver definição aqui. Mais que uma simples mudança, trata-se de uma teoria de constância e aprimoramento contínuo através da análise e identificação de pontos sensíveis dentro da organização de uma empresa, por exemplo. Pontos esses que podem ser melhorados, corrigidos. Esse trabalho não é executado apenas por uma pessoa, ele requer a participação de todos os indivíduos de um grupo, seja qual for a forma organização.

No jogo infinito ocorre exatamente a mesma coisa, ao identificar o teu propósito de vida, tua “causa justa” que advém através do Círculo Dourado, você conseguirá desenvolver objetivos à longo prazo se desprendendo das amarras dos objetivos imediatos. Mas todo esse propósito do jogo infinito só pode ser desenvolvido quando há um líder visionário comandando todo o processo. Um bom exemplo desse tipo de liderança é àquela desenvolvida por Steve Jobs. Ele direcionou a Apple para um jogo infinito tão poderoso que mesmo com sua ausência a empresa continuou o legado no mesmo processo evolutivo.

Vale dizer que no jogo infinito o foco não é superar o seu oponente e finalizar o processo, porque seu oponente é apenas uma referência a ser superada e não um processo conclusivo de perder ou ganhar. Quando você supera o oponente que está a tua frente, você escolhera outro que está a tua frente e assim sucessivamente. Mas o intuito aqui é puro e simplesmente superá-lo e não apenas ganhar dele. Essa é a estratégia, você testa suas capacidades de se superar ininterruptamente. O mais interessante nesse processo de superação é que, em nenhum momento você quer o fracasso dos seus oponentes, você quer o sucesso deles porque isso te obrigaria a fazer além do que você já faz para superá-lo. Nesse caso, o ganho está na jornada evolutiva, não em simplesmente ganhar ou perder como ocorre numa competição de jogo de futebol, por exemplo.

É importante parar um momento de sua vida e refletir um pouco sobre tudo que você está fazendo por você, por sua empresa, por seu trabalho, sua carreira, sua produtividade, seus funcionários… analise todo o processo e certifique-se se todo ele não esteja se resumindo à inúmeros jogos finitos e até em objetivos desnecessários. Comece agora, encontre um motivo claro que te dê o caminho correto para trilhar o seu jogo infinito, a sua causa justa. E não se esquece de aproveitar a jornada porque ela é constante e muito rica em aprendizado. Preocupe-se em ser hoje melhor que ontem e amanhã melhor que hoje.

Paulo César Lemes.

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